CENTRAL DE MATERIAIS E ESTERILIZAÇÃO (CME): O QUE VOCÊ PRECISA SABER (PARTE II)

CENTRAL DE MATERIAIS E ESTERILIZAÇÃO (CME): O QUE VOCÊ PRECISA SABER (PARTE II)

NENHUMA FASE DO PROTOCOLO É MENOS IMPORTANTE QUE AS OUTRAS FASES. AQUI SE APLICA O CONCEITO DE QUE A CORRENTE NUNCA É MAIS FORTE DO QUE SEU ELO MAIS FRACO.

Dentro do Protocolo de Controle de Infecção, a esterilização e o monitoramento da qualidade da esterilização ocupam lugar de destaque, porque são as etapas que vão encerrar todo o processo de Controle de Infecção, antes da utilização na boca do paciente ou da armazenagem dos pacotes para reutilização dos instrumentais no momento oportuno.

A monitoria dos processos de esterilização é fundamental para o acompanhamento e mensuração dos parâmetros da autoclave, conforme o fabricante, bem como da qualidade da esterilização através dos controles.

Frisemos que nenhum elo da cadeia de controle de infecção pode ser negligenciado.

 

ESTERILIZAÇÃO 

Conceitua-se, genericamente, como um processo que promove completa eliminação ou destruição de todas as formas de micro-organismos presentes, quer sejam eles vírus, bactérias, fungos, protozoários ou esporos, para um aceitável nível de segurança.

Este conceito não é exatamente tão simples, como possa aparentar. Um artigo, atualmente considera-se estéril quando a probabilidade de encontrar um micro-organismo viável (vivo) é de 1 para 1 milhão, expressa na equação:

(1: 1.000.000 =10-6)

 

Os métodos conhecidos de esterilização são divididos em:

►Físico
►Químico
►Físico-químico


Para serviços odontológicos no Brasil, aceita-se somente a esterilização a partir de método físico com AUTOCLAVE - Calor úmido/Vapor saturado – processo que funciona com calor ativo e 3 (três) parâmetros: tempo, temperatura e pressão sob vapor. 

A esterilização a vapor é realizada em autoclaves cujo processo possui fases de remoção do ar, penetração do vapor e secagem. O sistema de remoção do ar diferencia os diversos tipos de autoclaves e seus ciclos de esterilização são orientados de acordo com as especificações do fabricante.

 

Segundo a classificação da ANVISA, há três tipos de Autoclaves: B, N e S:

Classe B: destina-se à esterilização de materiais sólidos embalados e, sobretudo, acanulados e articulados. São indicadas para materiais com maior grau de dificuldade como: porosos, ocos, tecidos, borrachas e embalagens múltiplas. Também conhecidas como Autoclaves "Pré-vácuo” 
 

Classe N:  destina-se somente à esterilização de materiais sólidos embalados ou não, embora “não-embalados” seja, na prática, alternativa dispensável. São as conhecidas como Autoclaves "Gravitacionais”. 

Durante a fase que antecede a esterilização, nas Gravitacionais uma válvula na porção inferior da câmara é aberta e a pressão positiva força a saída do ar. Em tese, o ar mais frio fica embaixo, daí o termo 'gravitacional'. A fase de secagem é limitada, uma vez que não possui capacidade para a completa remoção do vapor.  Sua desvantagem: pode apresentar umidade ao final do ciclo pela dificuldade de remoção do ar.  
 

Classe S: destina-se à esterilização de materiais sólidos embalados, ocos, acanulados, porém seus programas podem ser adequados a carga/itens específicos (Specific) de acordo com a necessidade do laboratório de testes. Possuem apenas UM pré-vácuo. Não são utilizadas em ambientes de saúde como o são as categorias N e B, por estas possuírem programas pré-estabelecidos e fixados pelo fabricante e nunca alterados pelo usuário.

 

As autoclaves de Classe B são estruturadas com:

Sistema geração e injeção de vapor dentro da câmara de esterilização e até 3 pré-vácuos conforme necessidade do processo, antes de entrar na fase de esterilização. 

Sensores para monitorar a qualidade da água no reservatório externo.

Reservatórios exclusivos e separados para água utilizada e a utilizar.

Sistema de drenos independentes para estes líquidos.

Rigoroso filtro de admissão de ar para garantir a pureza do processo.

Programas para testes de esterilização Bowie & Dick, Helix e de vácuo. Programa de esterilização Príons. Estes testes e programa garantem parâmetros de segurança máxima.

Secagem a vácuo, seguida de quebra-vácuo através de filtro hidrófobo de 22µm.

Programa manual do tempo de secagem para secagem absoluta.

OBS: As Autoclaves Classe B são de uso obrigatório em todos os serviços odontológicos dos EUA, Europa e alguns países da América Latina.

 

PRAZO DE VALIDADE PÓS-ESTERILIZAÇÃO

Esse tema é bastante polêmico na Odontologia, pois há divergências entre as diversas Vigilâncias Sanitárias do Brasil.

No estado de São Paulo e na maioria das cidades brasileiras para serviços odontológicos são 7 (sete) dias, embora seja questionável, pois depende do protocolo de limpeza e processamento, bem como da qualidade da embalagem e dos cuidados com armazenamento dos pacotes.

Todos os pacotes devem ter a data da esterilização e o nome do profissional responsável pelo processo.

A segurança do processo de esterilização depende de todas as fases da preparação dos artigos de saúde.

A sobrevivência de micro-organismos ao processo de esterilização pode decorrer de falhas humanas (limpeza e preparo inadequado do material) e de falhas mecânicas (falta de manutenção e falhas nos equipamentos).

 

FALHAS NO PROCESSO DE AUTOCLAVAGEM PODEM SER HUMANAS E/OU MECÂNICAS


Principais falhas humanas:

►Limpeza incorreta ou deficiente dos materiais. 
►Utilização de barreiras inadequadas para os artigos
►Confecção de pacotes muito grandes, pesados/apertados
►Disposição inadequada dos pacotes na câmara da autoclave
►Abertura muito rápida da porta ao término da esterilização
►Tempo de esterilização insuficiente
►Utilização de pacotes que saíram úmidos da autoclave
►Mistura de pacotes esterilizados e não esterilizados
►Não identificação da data de esterilização/validade dos pacotes
►Utilização de água destilada de má qualidade
►Descuidos com a manutenção preventiva do equipamento
►Desconhecimento ou despreparo profissional


Falhas mecânicas:

Decorrem da operação incorreta e da falta de manutenção preventiva da autoclave.

É importante ressaltar que as Autoclaves Classe B possuem controles e parâmetros mais rigorosos que minimizam a frequência de erros humanos.

 

INDICADORES

A monitoração é realizada por indicadores que se prestam a detectar falhas humanas ou mecânicas nos processos de esterilização. São métodos de aferição mecânicos, físicos, químicos e biológicos, utilizados mais frequentemente para métodos automatizados:

Mecânicos: estão relacionados ao equipamento de esterilização e devem contemplar os registros de manutenção preventiva e corretiva, registros dos problemas observados durante a prática diária e registros de validação do processo realizados periodicamente.

Físicos: monitores de tempo, temperatura e pressão, por meio de relatórios impressos computadorizados ou de forma manual.

Químicos: existem diversos tipos de indicadores químicos, descritos a seguir de acordo com a ISO 11.140-1:1995. Dentre os indicadores químicos, os mais indicados para a Odontologia são os Classe 5 ou Indicadores Integradores. São designados para reagir a todos os parâmetros críticos dentro de um intervalo específico de ciclos de esterilização. O desempenho dos integradores é comparado à inativação de um micro-organismo de teste. Na Odontologia, o indicador Classe 5 é indicado para utilização em todos os ciclos da autoclave. Os indicadores químicos Classe 5 (integradores químicos) devem ser arquivados conforme uso.

Biológicos: são considerados pelos órgãos sanitários no Brasil padrão-ouro. É o método mais seguro de monitoramento da esterilização. Sua tecnologia consiste na aplicação dos próprios esporos (bactérias adormecidas e resistentes ao processo de esterilização a ser monitorado) impregnados em tiras de papel. Posteriormente à esterilização, efetua-se o contato da tira com o meio de cultura e a incubação. Caso não ocorra o desenvolvimento do esporo, o processo de esterilização mostrou-se capaz de eliminar os possíveis tipos de vida microbiana.

 


MONITORAÇÃO BIOLÓGICA

É realizada por meio de indicadores biológicos utilizados para monitorar o processo de esterilização, consistindo em uma população padronizada de micro-organismos viáveis conhecidos como resistentes ao modo de esterilização que se quer monitorar.

A frequência dos testes biológicos difere de acordo com as recomendações das instituições que os preconizam. No caso de São Paulo a Vigilância Sanitária preconiza da seguinte forma:

Semanalmente, se for atendimento de clínica geral. 

Diariamente, quando da utilização de implantes.

Sempre ao término de todas as manutenções realizadas, sejam elas preventivas ou corretivas.

Para esterilização à vapor, os bacilos mais comuns utilizados nos indicadores biológicos são os do tipo B. stearothermophillus. A interpretação dos resultados é bastante simples, por meio de observação visual. Após a esterilização, o indicador químico no rótulo da ampola teste deverá ter mudado de cor, passando de rosa para marrom escuro ou preto (ou conforme a orientação do fabricante).

Os resultados podem ser:

Aprovado – quando o teste permanece roxo e o controle fique amarelo. Isto indica que na ampola-teste os esporos foram incapazes de se reproduzir, enquanto na ampola padrão formaram colônias. Neste teste, a esterilização foi efetiva.

Reprovado – quando as ampolas-teste e padrão ficam com cor amarela após a incubação, indica que houve crescimento bacteriano em ambas. Isto pode ser devido à falta de manutenção da autoclave, resultando em esterilização não efetiva.

 


REGISTROS DA MONITORAÇÃO DE ESTERILIZAÇÃO

Devem ser arquivados em pastas e/ou cadernos específicos para esse fim e servem como documentos legais de controle de Esterilização. Assim, cada teste utilizado, seja químico ou biológico deve ter seu resultado arquivado.

No caso dos indicadores biológicos, apenas as etiquetas do teste devem ser coladas na pasta com as devidas anotações de data, número de ciclo e se o resultado foi positivo ou negativo e outros.

 

ACONDICIONAMENTO

É a última etapa do Processamento de Artigos seguindo o fluxo unidirecional e tem fundamental importância. Sua função é preservar a condição estéril dos artigos processados.

Em serviços odontológicos o ideal é o armazenamento das embalagens em gavetas ou armários fechados que:

1-Garantam a integridade da embalagem.
2-Tenham área seca, longe de umidade
3-Não estejam superlotados
4-Não dobrem ou amassem as embalagens
5-Recomenda-se que o responsável pelo acondicionamento e armazenamento do material, após a sua retirada da autoclave, proceda a uma rigorosa inspeção visual, com lupa, para observar se há presença de umidade no papel. Se houver, e não estando o pacote descolado, perfurado ou rasgado, que se faça um ciclo de secagem manual para se assegurar de que esteja absolutamente seco. Este é o momento de observar se não houve também descolamento de selagens, furos ou rasgos de nenhuma ordem, principalmente nos pacotes de conteúdo perfurocortante, e que o material esterilizado esteja de fato protegido contra contaminação antes da reutilização na cavidade oral do paciente.

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Dra. Lusiane Borges
Cirurgiã-Dentista, Biomédica, com especialidade em Microbiologia, Epidemiologia, MBA em Esterilização.