Dor Temporomandibular e Dor Orofacial - A Prevenção é a Palavra-Chave

 Em tempo de Pandemia, muitos são aqueles acometidos pela ansiedade e estresse emocional que podem causar, dentre outras complicações sistêmicas, as dores orofaciais.

Mais que nunca, segundo o Prof. Dr. César Bataglion -Livre Docente em Odontologia, especialista em DTM – Disfunção Temporomandibular e DOF – Dor Orofacial e Professor Associado de DTM e DOF da FORP-USP, a prevenção é a palavra-chave.

No tocante às DTMs, deve-se evitar posturas incorretas, ficar apertando os dentes, principalmente quando acordado (em vigília), abertura demasiada da boca que possa proporcionar estiramento dos músculos da mastigação e deslocamento e ou travamento da mandíbula. 

“Evitar o uso excessivo dos músculos (sobreuso) contribui para a prevenção ou diminuição das dores nos músculos da mastigação e articulações temporomandibulares”, orienta Bataglion.

A seguir perguntas da Revista APCD-RP e respostas na íntegra do Prof. Dr. César Bataglion.

 Em suas especialidades, quais as intercorrências mais frequentes?

 Dor Orofacial, por definição, é toda dor associada a tecidos moles e mineralizados (pele, vasos sanguíneos, ossos, dentes, glândulas ou músculos) da cavidade oral e da face.

As condições clínicas mais frequentemente associadas a dor orofacial incluem dor na região intraoral irradiada a face, sendo possíveis fontes de dor as lesões cariosas, problemas endodônticos, doenças periodontais, erosões na mucosa ou ulcerações (lábios, língua e bochechas), lesões em glândulas salivares, neuralgias, tumores, trauma tecidual e doenças autoimunes.

As disfunções temporomandibulares (DTM) respondem por uma parcela significativa das dores orofaciais, onde são verificadas no exame físico alterações funcionais e sensoriais dos pacientes. Dor de cabeça de origem temporal é comumente encontrada nessas disfunções, bem como limitações ou desvios na abertura da boca, dificuldade para mastigar, dor para abrir a boca, dor nos músculos da face e têmpora, dor nas articulações temporomandibulares (ATMs) irradiada para a área auditiva, barulhos nas ATMs (estalidos ou crepitações) e episódios de travamento da abertura da boca.

Usualmente a DTM pode estar associada com cervicalgias, cefaleias primárias e fibromialgia.

A etiologia das DTMs deve-se a fatores chamados iniciadores, ou seja, aqueles que de fato causam seu início (trauma, sobrecarga, parafunção), predisponentes, ou seja, aumentam o risco da disfunção se estabelecer (condições sistêmicas - estado de saúde do indivíduo, psicológicas e estruturais: oclusão e ATM) e perpetuantes, ou seja, aqueles que influenciam na progressão ou remissão das DTM (problemas comportamentais, sociais e emocionais).

 Como as pessoas podem atuar para evitá-las?

 Em relação às dores orofaciais de origem intraoral a prevenção é a palavra-chave através de boa higiene bucal e dieta saudável com alimentos contendo baixo teor de açúcar, prevenindo o aparecimento da cárie e da doença periodontal.

No tocante as DTMs, evitar posturas incorretas, apertamento dos dentes principalmente quando acordado (em vigília), abertura demasiada da boca que possa proporcionar estiramento dos músculos da mastigação e deslocamento/travamento da mandíbula.

Evitar o uso excessivo dos músculos (parafunção) contribui para a diminuição das dores nos músculos da mastigação e nas articulações temporomandibulares.

O paciente deve consultar regularmente o Cirurgião Dentista para a prevenção e diagnóstico dos possíveis problemas existentes na área da dor orofacial, como em outras, próprias da área odontológica. 

 Mais que nunca, especialmente em tempo de pandemia, a prevenção é o melhor a fazer?

 Sim. Neste momento de pandemia em que a procura por tratamentos está mais comprometida, a prevenção sempre é o melhor a fazer. Prevenir o aparecimento de cáries e doença periodontal através de escovação correta e regular é por demais importante. Evitar traumas na boca e face.

Na área da DTM evitar o sobreuso da musculatura é essencial. Cuidar da postura do corpo para a prevenção de dores da coluna cervical que irradiam para a face e cabeça também deve ser considerado.

Como as DTM tem relação positiva com os problemas de saúde geral do paciente, a recomendação é que o mesmo se cuide em relação às suas necessidades de tratamento quanto ao aspecto sistêmico.

 Neste período de estresse, devido a pandemia, o que fazer para minimizar as dores e não acentuar os quadros já instalados?

 Neste quesito a palavra-chave é o automanejo. Procurar manter a calma, mesmo sabendo que o momento é de dificuldade. Buscar o equilíbrio da mente é fundamental para a saúde do corpo.

As alterações psicológicas influenciam sobremaneira a ocorrência da dor que deve ser analisada dentro do contexto biopsicossocial. No tocante às DTM os fatores psicológicos que constituem o Eixo II dessas disfunções devem ser controlados (o eixo I é composto dos fatores físicos). Os pacientes devem ser orientados a ter pensamentos positivos e bom convívio familiar.

Deve-se trabalhar o emocional buscando minimizar alterações comportamentais. A melhora do estado de saúde dos pacientes que buscam a conexão com a espiritualidade mostra-se altamente positiva, portanto, cada um com sua fé deve vivenciar momentos de oração, meditação e conexão com o Divino, para a busca da paz e harmonização do corpo e da alma.

A dor normalmente interfere nas funções orofaciais como mastigar, falar e deglutir. Isto leva a mudanças prejudiciais na dieta e negligência dos hábitos de higiene bucal. O paciente deve estar atento a estes aspectos. Evitar apertar os dentes é fundamental. 

Aplicação de calor úmido com toalhas aquecidas em água morna sobre músculos doloridos, seguido de massagem na área com gel anti-inflamatório contribui de maneira significativa para a redução da dor - e isto é um procedimento caseiro muito bem indicado neste momento de pandemia quando as pessoas estão mais reclusas em casa.

A dores orofaciais produzem impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes, reduzindo sua capacidade de trabalho e afetando suas relações com os familiares mais próximos. Neste momento de isolamento social, procurar manter atividades físicas, mesmo que dentro de casa, tomar um pouco de sol e evitar manter posturas incorretas que proporcionem contratura dos músculos e dor são atitudes importantes.

Cuidar da qualidade do sono, que não deve ser fragmentado. A dor relacionada a distúrbios do sono é muito comum. Os distúrbios do sono podem induzir a dor muscular generalizada e diminuição do limiar de tolerância à dor. Considerar também que os distúrbios do sono podem causar o bruxismo do sono.

Esses fatores são importantes e devem ser considerados no controle da dor.

 Quanto ao lema "Esteja orgulhoso da sua boca”, dos anos 2020 e 2023, é um apelo valido para a valorização da saúde bucal?

 Sim. Muito válido. Devemos lembrar que a digestão começa pela boca. É pela boca que mantemos a função vital de mastigação.

Muitos indivíduos vivem sem pernas e braços, mas não vivemos sem a mandíbula - isto denota a importância da boca.

É pela boca que nos alimentamos, comunicamos, sorrimos e beijamos; portanto "fique orgulhoso de sua boca".

Fonte: Revista APD Ribeirão - Edição de abril de 2021. 

 

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  • Depoimento - Prof. Dr. César Bataglion
    Prof. Dr. César Bataglion
    Docente em Odontologia, especialista em DTM – Disfunção Temporomandibular e DOF – Dor Orofacial e Professor Associado de DTM e DOF da FORP-USP
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