Dentro de um ambiente clínico pode ocorrer a contaminação cruzada entre profissionais e pacientes. Os agentes que contribuem para que tal aconteça são sangue, saliva, secreções e instrumentais contaminados. E as vias mais comuns de transmissão são inalação, ingestão e inoculação por meio de membranas, mucosas ou ferimentos na pele. Para prevenir a ação direta dos agentes de contaminação cruzada se utilizam barreiras físicas.
Há outros dois agentes a considerar: o comportamento entre as pessoas (equipe profissional e pacientes) e os Procedimentos Operacionais Padrão – POP preconizados pela ANVISA através de sua Resolução RDC 15, de março de 2012. São dois aspectos fundamentais do Controle de Infecção e das corretas práticas biosseguras. Comportamento adequado se obtém com conscientização e capacitação da equipe profissional e orientação dos pacientes. E os POP’s têm estreita relação com planejamento do ambiente clínico, com especial cuidado com o Centro de Materiais e Esterilização – CME e seus equipamentos, visando as práticas biosseguras em geral.
De acordo com a ANVISA, a biossegurança é a “condição de segurança alcançada por um conjunto de ações destinadas a prevenir, controlar, reduzir ou eliminar riscos inerentes às atividades que possam comprometer a saúde humana, animal e o meio ambiente”. Entre este conjunto de ações estão as embalagens, a esterilização e o armazenamento, temas de que trataremos aqui, conforme os POP’s.
Embalagem
O papel grau cirúrgico é o material mais usado nos CME’s para embalagem de produtos a esterilizar na autoclave, e um dos elos da corrente de proteção dos profissionais e pacientes. Normalmente apresentado em forma de rolo, é composto de uma lâmina plástica termo resistente e outra de SMS (spunbond-meltblown-spunbond) ambas fundidas lateralmente, onde se encontram indicadores químicos que mostram quando foi submetido ao calor e pressão de autoclave.
Papel grau cirúrgico
Para saber mais sobre o SMS clique aqui https://www.wosonlatam.com.br/diferenca-entre-tnt-e-sms
A tira de papel grau cirúrgico é cortada no tamanho adequado ao conteúdo a esterilizar e, através de uma termo seladora, se fundem os extremos para envelopar.
Outros tipos de papel não são recomendados para embalar materiais a esterilizar em autoclaves sob calor, vapor e pressão. Mesmo o papel grau cirúrgico precisa ser autorizado pela ANVISA, pois há de ter porosidade controlada e seguir as normas oficiais de segurança e qualidade. Recomenda-se atenção no ato da aquisição do papel grau cirúrgico.
Alguns cuidados são importantes nesta fase.
- O material a ser embalado deve estar absolutamente limpo, preferencialmente submetido à lavagem ultrassônica, que remove sujidades ou resíduos orgânicos das estruturas profundas dos materiais. A retenção de sujidades se potencializa em peças-de-mão, por exemplo, que retêm resíduos orgânicos em seus condutos, engrenagens e rolamentos. Material com sujidades e ou matéria orgânica não se esteriliza. Então a regra é limpar, limpar e limpar.
- O material deve ter sido enxaguado com água filtrada ou purificada para minimizar a presença de sais da água da pré-lavagem. Os sais são os grandes vilões responsáveis pela oxidação de instrumentos e manchas.
- O enxágue de material com lúmen deve-se fazer idealmente com pistola de água sob pressão se possível.
- A secagem do material é outro cuidado importante e deve igualmente ser feito com pistola de ar comprimido isento de óleo, principalmente em articulações, lumens, superfícies rugosas ou irregulares.
- A secagem com tecido pode deixar fiapos presos na superfície do material e manchá-los quando da secagem no final do processo de esterilização. A exceção é o tecido tipo Perfex, que tem alto poder de absorção de umidade.
- A selagem de qualidade está entre os cuidados mais importantes, para que os pacotes ou envelopes não abram durante a esterilização e manipulação. O padrão recomendado é selagem uniforme com área de contato de 12mm, na temperatura e tempo corretos.
- O descolamento de uma solda mal feita compromete fatalmente a esterilidade do material e não pode ser colocado em reuso.
- Os materiais colocados no envelope devem ser de natureza similar. Por exemplo, plástico com plástico, metal com metal, têxtil com têxtil, borracha com borracha etc.
- Os instrumentos com corte devem ser acondicionados nos envelopes ou pacotes de forma que (o corte) não toque em outra superfície para não se danificar.
- Os instrumentos pontiagudos devem ter as pontas protegidas para não perfurarem o envelope ou pacote e nem causar ferimentos durante a manipulação.
- Os envelopes ou pacotes devem ser datados e identificados com caneta ou etiqueta apropriadas para não perder a nitidez, importante para o controle de validade e gestão de armazenamento.
- Embalagens excessivamente cheias influenciam a qualidade da esterilização, além de forçar as soldas da selagem e contribuir para seu rompimento.
Além do papel grau cirúrgico, o mercado oferece tecnologia mais avançada com os contêineres de metal aluminizado com estojos metálicos internos. Esses contêineres são abastecidos com o material limpo e colocado em autoclave. Sua vida útil é longa, nunca se danificam e possuem filtros perenes, considerados “eternos”, porque não precisam ser trocados. O investimento neles se paga na medida em que reduz despesa com embalagem, facilita o operacional, ganha tempo e segurança com a esterilidade do material.
Contêiner de metal aluminizado
Esterilização
Com o material limpo e embalado adequadamente, e todos os cuidados tomados, chega o momento de autoclavar.
Há dois tipos mais comuns de autoclaves, de acordo com a Norma Internacional EN13060: as Classe N ou gravitacionais que recebem água dentro da câmara de inox, aquecida por resistência interna para gerar calor, vapor e pressão, e as Classe B ou pré-vácuos que possuem máquina de vapor a ser injetado dentro da câmara de inox e bomba de vácuo para gerar pressão negativa (vácuo) dentro da mesma câmara.
Para conhecer a diferença entre autoclaves gravitacionais e pré-vácuos clique aqui https://www.wosonlatam.com.br/a-escolha-da-autoclave-ideal.
A qualidade da esterilização do material embalado tem relação direta com a qualidade da autoclave que a equipe profissional utiliza no CME. É preciso analisar a demanda de material a esterilizar e entender qual classe de autoclave – gravitacional ou pré-vácuo – vai trazer mais benefícios para o profissional ao longo do tempo. Investimento em biossegurança sempre tem alto retorno para médio e longo prazo.
Alguns cuidados são importantes neste momento:
- Fazer inspeção visual, com lupa de preferência, nas soldas e superfície para detectar eventuais danos durante a manipulação antes do abastecimento da autoclave.
- Colocar os envelopes nas bandejas, na posição vertical, sem encostar no aço da câmara de inox, com espaço entre eles. A temperatura do aço é calor seco e superior à do vapor, por isso pode queimar o papel grau cirúrgico. O espaço entre envelopes favorece a sua secagem.
- Lembrar que pacote úmido é pacote contaminável por ser a superfície úmida receptiva à microbiota em suspensão e a porosidade controlada do SMS ainda estar aberta para entrada de microrganismos.
- Se detectar presença de umidade nos envelopes, realizar um ciclo adicional de secagem antes da retirada dos envelopes de dentro das autoclaves. Há autoclaves que têm o recurso do aumento do tempo de secagem automática com porta fechada.
- O cuidado acima deve ser especialmente tomado quando a autoclave utilizada for Classe N ou gravitacional, porque esta não trabalha com bomba de vácuo. Registre-se que autoclaves que atuem com porta semiaberta durante a fase de secagem não possuem secagem efetiva.
- Recomenda-se escolher autoclaves que sequem com porta fechada, seguindo com rigor as instruções do fabricante. A secagem ideal ocorre com as autoclaves a vácuo.
- Os envelopes devem ser colocados face-face do mesmo tecido, ou seja, plástico-plástico (ou filme-filme) e papel-papel (ou SMS-SMS).
- Encher demais as bandejas não é recomendável, pois contribui para a não secagem adequada dos envelopes.
- Ao retirar os pacotes secos da autoclave é recomendável outra inspeção visual antes de colocar em uso ou levar para a armazenagem.
As cargas esterilizadas em contêineres seguem critérios diferentes dos cuidados acima, definidos pelo seu fabricante. Aguardem matéria que tratará especialmente de embalagem de material em contêineres aluminizado com filtros permanentes.
Armazenagem
O local para armazenagem segue critérios definidos pela ANVISA e sua Resolução RDC 15, de março de 2020.
- O transporte do CME até a sala de armazenagem deve ser feito em suportes adequados para a manipulação reduzir-se ao mínimo e o mais segura possível.
- As prateleiras devem ser feitas de material não poroso, resistente a limpezas úmidas e a produtos saneantes.
- Os nichos devem ser arejados, em local seco e com luminosidade controlada.
- O armazenamento deve privilegiar a leitura das etiquetas com datação e identidade das coleções esterilizadas.
- O material deve circular o mínimo possível até o local de armazenagem e deste até a sala de atendimento.
Para assistir entrevista com dicas úteis bem bacanas sobre embalagem de material para uso em ambientes de saúde, clique aqui